Breve análise de conjuntura:
O momento histórico do Brasil no mundo é peculiar. As grandes mobilizações de massa no presente, chamadas de Jornadas de Junho, evidenciou ao povo o fim do terceiro ciclo da esquerda brasileira: o primeiro, ocorreu no período final do século XIX até aproximadamente a segunda década do século XX, de origem anarquista e comunista; o segundo, mais longo, na luta contra as sucessivas ditaduras do país (especialmente a ditadura militar) e pela (re)democratização do país, que perdurou entre 1922 e meados de 1970; e o terceiro e último, com forças progressistas com origem nos sindicatos, igreja católica e grupos marxistas que optaram por mudar a sociedade a partir do estado burguês, por meio de uma formulação e prática chamada Programa Democrático e Popular nos anos 1970 até a “Carta aos Brasileiros” em 2002.
As jornadas de junho finalmente situaram o Brasil num contexto mundial de lutas e pautas, que assim como as que se deram nos contextos da primavera árabe, protestos estudantis do Chile, Occupy Wall Street, greve dos trabalhadores mineiros na África do Sul, ambientalistas turcos do Parque Taskim, trabalhadores contrários às políticas de austeridade dos países da Zona do Euro (França, Grécia, Espanha e Itália), o movimento feminista da Índia, dentre outros, cada qual com sua especificidade, convergem para o campo anticapitalista. No atual momento histórico, essas mobilizações se tornam forças constitutivas de uma nova esquerda em formação, construindo organizações de nova espécie, com diferentes práticas e métodos, quebrando os desgastados paradigmas até então existentes.
Estas mobilizações, são as que de fato, tem colocado em xeque a ordem capitalista!
A promessa do capitalismo globalizado equalizar toda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços falhou. Acentuando no neoliberalismo a vitimização da grande maioria da população mundial, concentrando a grande riqueza na pequena minoria. Essa desigualdade social afetou a maioria dos estratos sociais e exige respostas. A América Latina é um celeiro produtivo na tentativa de criação destas respostas. Entretanto, não houve uma experiência de rompimento completo com o capitalismo, o que nos impulsiona a continuar lutando para a criação de novas experiências políticas. Os governos brasileiros pós redemocratização pouco inovaram ou conseguiram implementar uma política diferente da imposta pelo FMI, adotando práticas nefastas e conhecidas como austeridade fiscal e superavit primário, que coloca o Brasil de joelhos diante do grande capital mundial, precarizando o trabalho e acentuando a retirada de direitos. Com isso, a fragilização do tecido social historicamente explorado e, excluído dos supostos ganhos da economia de mercado, os tem colocado na antessala da eliminação física (de que é prova o elevado índice de mortes violentas, oriundas de ações policiais e as crescentes ações de grupos de extermínios).
A política econômica adotada pelo atual governo desde de 2009 até o presente, tem com base um alto nível de endividamento da classe trabalhadora, o qual a tem levado para aumento do (sub)emprego formal que explora e continua humilhando-os. Este mesmo governo, através de alianças políticas com setores tradicionais da burguesia, estagnou a política do país, fazendo permanecer a mesma dominação de classes e pouca mudança na desigualdade social.
Os programas assistenciais mantidos pelo governo, por trás da propaganda de bem-estar social, traduz uma verdadeira transferência de renda da classe trabalhadora para a burguesia. Cada vez mais presenciamos famílias inteiras comprometerem sua renda mensal com a assunção de financiamentos a taxas de juros elevadíssimas, ampliando os ciclos sucessivos de desigualdade social, culminando numa lógica de adesão e perpetuação ao capitalismo, em nosso caso dependente.
Além disso, o Estado Democrático de Direito burguês, não sofreu nenhuma alteração que rumasse a uma democracia direta. A sociedade em geral perdeu as esperanças nos atuais governos, que preocupou-se apenas com a governabilidade e pouco avançou na criação de mecanismos que satisfizessem as necessidades concretas do povo. Além disso, a redemocratização feita no Brasil, ainda que obteve avanços não depurou o seu passado de ditadura militar, cujos resquícios perpassaram todos os governos “democráticos” que se seguiram, seja pela incorporação das práticas de outrora (clientelismo, fisiologismo, a criminalização dos movimentos sociais e a repressão estatal e militar aos movimentos políticos contrários a ordem), seja pela incorporação dos agentes do regime autoritário às estruturas das instituições e dos partidos (alianças políticas com grupos oligárquicos revestidos de presidencialismo de coalizão) que resultam no pseudo estado democrático de direito, pois o atual estado brasileiro institucionaliza a segregação (apartheid) social, entre ricos e pobres. Isso explica, porque a pletora de direitos sociais e garantias constitucionais, existentes do ponto de vista formal a todos e todas, somente é usufruída na sua plenitude pela plutocracia. Neste contexto histórico e alinhados com os movimentos sociais revolucionários, entendemos por bem a criação de um coletivo que proporcionasse um espaço para debater sobre um programa de esquerda para a revolução brasileira e que permita contribuir na ação concreta e organizada na realidade brasileira e latino americana com o objetivo de superação do capitalismo.
O CORDEL - Coletivo Revolucionário de Libertação - tem os seguintes princípios que o regem:
1. O Socialismo, compreendido em suas diversas perspectivas.
2. Superar as orientações e posições políticas oriundas do Programa Democrático e Popular.
3. Teoria revolucionária, construída em conjunto com os que se situam no campo dos explorados: a classe trabalhadora, lutadores/lutadoras sociais e por todos/todas aqueles/aquelas que estão nas lutas cotidianas por emancipação e libertação.
4. A negação do imperialismo, do consumismo, do eco capitalismo, antropocentrismo, do machismo, do etnocentrismo, do eurocentrismo, do racismo, da homofobia, do preconceito e de qualquer tipo de discriminação, bem como qualquer violação aos direitos humanos.
5. A compreensão da subjetividade como fator central no processo revolucionário.
6. Monoteísmo como ateísmo do capitalismo e de qualquer sistema político e econômico que divida a sociedade em classes.
7. Práxis cristã (inclusiva, não sectária e não dogmática) na construção do processo revolucionário.
Por acreditar nestes princípios e propor-se a lutar por eles, abaixo assinamos:
Dezembro de 2013